Documento oficial inventou que docente tinha sentimentos românticos por colega que a assediou; diretoria é acusada de falsificação
Uma escola primária administrada pelo distrito de Nakano, em Tóquio, está envolvida em um grave caso de falsificação de documentos após relatar de forma incorreta um episódio de assédio sexual. Segundo apuração do jornal Mainichi Shimbun, a direção da escola informou ao conselho de educação que uma professora teria sentimentos românticos por um colega e que ambos usavam linguagem sexual em mensagens e conversas — algo que nunca ocorreu.
O relatório foi elaborado apenas com base no depoimento falso do professor acusado de assédio. A professora não foi ouvida individualmente em nenhum momento. Abalada com o episódio, ela está afastada há mais de um ano. Em setembro de 2025, ela apresentou denúncia à Polícia Metropolitana contra o então diretor e o vice-diretor por suposta criação e uso de documentos oficiais falsos, caso que já foi aceito pelas autoridades.
A professora havia sido transferida para a escola na primavera de 2024 e utilizava o aplicativo Line para tratar de assuntos de trabalho com o colega que lecionava na mesma série. Com o tempo, as conversas ficaram mais pessoais, e o professor passou a fazer comentários de cunho sexual, inclusive sobre sua aparência.
De acordo com a denúncia, no fim de outubro de 2024 o professor enviou uma mensagem com palavras que faziam referência explícita a órgãos genitais masculinos. O marido da professora viu a mensagem e procurou o conselho de educação. Houve então uma reunião com o diretor, o vice-diretor e o professor acusado, que pediu desculpas ao marido e recebeu apenas uma advertência verbal. Depois disso, a professora entrou em licença e não voltou mais ao trabalho.
Em março de 2025, por meio de um pedido de acesso à informação, a professora conseguiu obter o relatório enviado pela escola ao conselho em dezembro de 2024. O documento afirmava falsamente que ela e o professor já usavam linguagem sexual com frequência e que ela teria admitido nutrir “pensamentos impuros” e afeto por ele — declarações que nunca fez.
Na época em que o relatório foi produzido, a professora sequer havia sido entrevistada. Mesmo assim, a direção escreveu o documento com base apenas no relato do professor. Ela solicitou que a escola e o conselho corrigissem o relatório e pedissem desculpas, mas nenhum dos dois tomou providências. O conselho afirmou apenas que o diretor, o vice-diretor e o professor foram transferidos para outras escolas em abril de 2025.
Um representante do conselho de educação reconheceu que o relatório contém erros, mas disse tratá-lo “como um rascunho”. Ele declarou que correções poderiam ser feitas, caso a professora pedisse formalmente — o que ela já fez. Já o ex-diretor afirmou ao Mainichi que só enviou o relatório com base no depoimento do professor porque o conselho teria orientado dessa forma, diante da impossibilidade de ouvir a docente.
A professora criticou duramente a situação: “Já estava confusa com as palavras e atitudes do professor, e ainda tive de ver um relatório oficial sugerindo que eu tinha intenções sexuais. É insuportável. A escola e o conselho de educação precisam corrigir o documento, assumir responsabilidade e pedir desculpas.”
