O Banco do Japão elevou a taxa para 0,75%, o maior nível desde 1995, buscando estabilizar a inflação e normalizar a economia frente ao crescimento salarial.
O Banco do Japão (BOJ) tomou uma decisão histórica nesta sexta-feira (19) ao elevar sua taxa de juros de curto prazo de 0,5% para 0,75%. Este movimento coloca o custo do dinheiro no Japão em seu patamar mais alto desde setembro de 1995, encerrando definitivamente a era de taxas próximas a zero que definiu a economia nipônica por décadas. A decisão foi unânime entre os nove membros do conselho, refletindo uma confiança crescente na recuperação econômica do país.
Justificativas e Estratégia do Banco Central
O governador do BOJ, Kazuo Ueda, explicou que a antecipação da alta foi uma medida preventiva. Segundo ele, esperar demais para agir poderia forçar o banco a realizar aumentos muito mais drásticos e dolorosos no futuro. O banco central acredita que o ciclo de deflação foi superado e que agora existe um mecanismo sólido onde o aumento dos preços é sustentado pelo crescimento real dos salários.
- Crescimento Salarial: Pesquisas indicam que as empresas planejam manter aumentos salariais robustos em 2026 para reter trabalhadores em um mercado com escassez de mão de obra.
- Inflação Persistente: O índice de preços ao consumidor está acima da meta de 2% há mais de três anos e meio, exigindo uma resposta da autoridade monetária.
- Normalização: O Japão busca alinhar sua política monetária aos padrões globais, saindo do isolamento de taxas negativas ou nulas.
Impacto nos Mercados Financeiros
A decisão gerou reações imediatas nos mercados globais e locais. Enquanto as bolsas asiáticas subiram por otimismo econômico, o mercado de títulos de dívida pública sentiu o impacto direto da nova taxa.
| Indicador Econômico | Reação após o Anúncio | Observação |
| Nikkei 225 (Bolsa de Tóquio) | Subida de 1,0% | Investidores precificaram o ajuste como positivo. |
| Título Público (10 anos) | Ultrapassou 2,0% | Maior rendimento registrado desde 1999. |
| Iene Japonês (vs Dólar) | Cotado a 156,36 | Moeda segue sob pressão apesar da alta de juros. |
| Bitcoin | Queda para US$ 88.000 | Ativos de risco perdem apelo com juros mais altos. |
O Fim do “Carry Trade” e a Divergência Global
Um ponto crítico desta decisão é o impacto no chamado carry trade. Durante anos, investidores tomaram empréstimos baratos em ienes para investir em ativos de maior rendimento no exterior, como ações de tecnologia nos EUA (Nvidia, Apple) e criptomoedas. Com o aumento dos juros no Japão, essa estratégia torna-se mais cara e menos lucrativa, o que pode causar uma repatriação de capital e volatilidade nos mercados mundiais.
Além disso, o Japão está agora em uma rota oposta às grandes economias. Enquanto o Federal Reserve (EUA) e o Banco Central Europeu discutem novos cortes para evitar recessões, o Japão é o único grande player mundial em um ciclo de aperto monetário.
Cenário Político e Econômico Interno
A administração da primeira-ministra Sanae Takaichi deu sinal verde para a medida, apesar do receio de que juros mais altos possam desestimular o consumo doméstico. A pressão da inflação sobre o custo de vida dos cidadãos japoneses, agravada pelo iene fraco que encarece importações de combustíveis e alimentos, tornou a alta de juros uma necessidade política e econômica.
O governo agora monitora como o aumento nos custos de empréstimos corporativos e financiamentos imobiliários afetará a economia real nos próximos meses, esperando que o fortalecimento da moeda alivie a inflação importada.
Com informações via Asahi Shimbun – Link 1 e Link 2 e Mainichi Shimbun
