
Por: Matheus Braga (J.League Insider)
Antes de começar esta coluna, é preciso sempre deixar claro que o que estará presente nesta coluna é a opinião do colunista baseado no que é divulgado pela AFC sobre a AFC Champions League Elite 2024/25. Tendo isso em mente, podemos começar.
Pensei em atrasar a coluna, que sai normalmente às quartas-feiras, para domingo, assim poderia comentar de forma mais tranquila os jogos de Kawasaki Frontale e Yokohama F. Marinos pela AFC Champions League Elite, mas ao preparar os materiais de cobertura decidi escrever esse texto.
No final da fase de liga, quando o Shandong Taishan havia sido desqualificado e afetado classificações de Vissel Kobe e Pohang Steelers, este que vos escreve comentou ao vivo na Rádio Mirai: “A AFC precisa acabar”. Eu repito, a Confederação Asiática de Futebol precisa acabar.
Novamente está em pauta a lisura da AFC, comandada pelo barenita Salman bin Ibrahim Al-Khalifa, em realizar uma competição de clubes de forma isenta e justa para todos os países-membros da AFC.
Na última década, a AFC Champions League, principal competição de clubes do continente foi reformulada duas vezes, curiosamente ambas beneficiando as equipes do golfo pérsico, ou melhor dizendo, da Península Arábica.
Você já sabe que a AFC se divide em duas conferências para realizar a Champions e encurtar as distâncias percorridas pelas equipes na primeira fase. Até 2013, no entanto, era permitido que clubes de dois lados opostos chegassem na grande decisão.
A partir de 2014, curiosamente o primeiro ano de mandato de Al-Khalifa na AFC, a competição muda de formato. Agora a ACL segue um modelo idêntico ao da NBA, com apenas uma equipe de cada conferência podendo chegar na final. Era uma época em que as equipes árabes não investiam tanto em futebol, tanto que o único campeão “não oriental” desde 2005 havia sido o Al-Sadd em 2011.
O começo da década de 2010 foi terrível para o futebol árabe. Clubes eram processados ano sim, ano também por quebra de contrato e atrasos nos pagamentos, muitos clubes foram acusados de reterem passaportes de atletas brasileiros. Enquanto isso a China vivia seu boom e o Japão se preparava para novos investimentos, que culminaram em Iniesta, David Villa e Fernando Torres chegando à J.League.
Mas com a nova regra tudo havia mudado, os clubes árabes tinham uma garantia de pelo menos uma vaga na final. Era só lutar contra uma equipe oriental mais rica e mais desenvolvida. Basicamente, é só torcer pra enfrentar alguma em pior fase, como o Al Hilal conseguiu em 2019 e 2021.
Agora o jogo mudou, as equipes ricas são as árabes, que contam com grandes nomes pagos por grandes salários. As equipes orientais agora são o lado pobre da chave, mas elas tem uma vaga na final garantida, não é mesmo?
Bem, lamento informar, mas aí é que você se engana, meu caro leitor!
Ano passado a AFC anunciou a mudança, novamente, no formato de disputa da AFC Champions League. Até mudou o nome da competição…agora é “Champions League Elite”.
O sistema de conferências continua para a primeira fase e para as oitavas de final, mas a partir das quartas as conferências são obrigadas a se cruzarem, ou seja, não só voltou a ser possível que clubes de uma mesma região façam a final…agora é possível que clubes da mesma região dominem as semifinais!
Sabe qual foi a última vez que os 4 primeiros colocados da ACL foram de uma mesma região? Nunca! Mas agora pode ser que isso aconteça, justamente na primeira temporada completa pós investimentos bilionários dos sauditas em seus clubes. Curioso, não?
Ah, ia me esquecendo! Se você acha que é só se segurar fora e fazer o resultado em casa, você também está errado! Agora, a partir das quartas, são jogos únicos e em campo neutro!
E não! Não é um país que não tem mais representantes nessa fase tipo Vietnã, China ou Uzbequistão… A fase final é em Jedá, na Arábia Saudita! Ou seja, todos os times do lado oriental vão jogar com 90% do estádio torcendo contra!
Mesmo o Al-Sadd, único time visitante da conferência ocidental, deve ter torcida farta. A viagem de Doha até Jeddah é de apenas 2 horas de avião. Se um torcedor do Frontale ou do Marinos quer ver seu time de perto, precisará enfrentar dezesseis horas de voo!
Com isso posto, seguimos o nosso texto.
Como se já não bastasse toda a desvantagem logística e de regulamento, aqui vem mais uma. Até a edição passada, a AFC tinha uma regra que limitava o número de jogadores estrangeiros a 3 mais 1 jogador asiático por equipe.
Ou seja, o Al-Nassr escalava o Cristiano Ronaldo e mais dois dentre os 9 que tinha no elenco, geralmente CR7, Mané e Otávio ou Laporte. Em 2025 são 10 estrangeiros e, pasmem, o Al-Nassr pode escalar todos, já que a regra de estrangeiros foi abolida.
O Al-Hilal, por exemplo, vai encarar o Gwangju, da Coreia, amanhã com nove estrangeiros. E não são nove estrangeiros comuns como o Aslani, estamos falando de João Cancelo, Rubén Neves, Milinkovic-Savic, Koulibaly… Ou seja, quem passar de um saudita hoje, tem que comemorar como se fosse um título.
Pra encerrar, até agora a AFC não escalou um árbitro que não seja de um país de origem árabe! Não tem nenhum árbitro principal que seja da Ásia Central ou do Oriente! A arbitragem do Al-Hilal será do Kuwait, a do Al-Ahli será de Omã e a de Al-Nassr e Yokohama F. Marinos será dos Emirados Árabes Unidos.
*A arbitragem de Kawasaki Frontale e Al Sadd ainda não foi divulgada.
Desde que Salman bin Ibrahim Al-Khalifa assumiu a AFC em 2013, nenhum país foi tão beneficiado, com decisões dentro e fora de campo, como a Arábia Saudita! A ACL curiosamente se adapta às necessidades dos sauditas. Se estão fracos, precisa ter vaga garantida na final, mas se estão ricos, dane-se o resto!
A verdade é que nós, amantes do futebol japonês, seguimos confiantes de que uma de nossas equipes pode se classificar à final, mas é claramente impossível não estarmos vendo o raiar de uma dinastia saudita na AFC.
De verdade mesmo? Se um saudita não levar a ACL, vai ficar feio demais. Porque a AFC de Salman bin Ibrahim Al-Khalifa, está fazendo o possível e o impossível pra isso.