Nova lei em Kuwana prevê punições para quem humilhar trabalhadores; caso de cliente que obrigou entregador a se ajoelhar revolta internet.
O Japão, conhecido mundialmente por sua hospitalidade e excelência no atendimento ao cliente, está enfrentando um novo desafio: o aumento de casos de assédio praticado por consumidores contra trabalhadores. A situação vem se agravando com episódios em que clientes passam dos limites, desde ligações insistentes até humilhações físicas, como obrigar funcionários a se curvarem no chão na posição conhecida como dogeza.
Um caso recente ganhou repercussão nacional: um cliente exigiu que um entregador se ajoelhasse em pedido de desculpas, comportamento que foi oficialmente classificado como assédio de cliente pela prefeitura de Kuwana, cidade da província de Mie. O infrator receberá uma advertência formal e, caso repita o comportamento, terá seu nome exposto publicamente como assediador.
A medida faz parte da nova ordem municipal pioneira aprovada em Kuwana, que entrou em vigor em abril e prevê punições reais, ao contrário de outras regiões, como Tóquio, Hokkaido e Gunma, onde as regras ainda são mais brandas e preventivas.
“Essa punição é leve demais para alguém que trata outro ser humano dessa forma”, comentou um internauta japonês, expressando indignação nas redes sociais.

O que é considerado assédio de cliente?
Segundo a legislação de Kuwana, empresas devem relatar incidentes ao prefeito, que encaminha o caso a um comitê especializado. No episódio mais recente, o comitê confirmou que a exigência de prostração pública ultrapassava os limites do aceitável.
Outros internautas reagiram com críticas severas:
- “Isso já deveria ser considerado crime. É coerção.”
- “Deveriam divulgar também as fotos desses clientes.”
- “Essas pessoas estão ficando cada vez mais ousadas.”
- “Se fosse comigo, preferia me demitir do que me ajoelhar.”
Casos mais extremos, como o de um funcionário forçado a raspar a cabeça após sofrer ameaças de violência, já resultaram em prisões por coerção, crime equivalente a extorsão ou intimidação. Porém, quando não há ameaça explícita, a linha entre crime e assédio se torna mais tênue, e muitas vezes as empresas optam por classificar a situação como customer harassment para evitar repercussão judicial.
Cultura do pedido de desculpas x limites legais
O Japão tem uma cultura profundamente enraizada na humildade e na formalidade de pedidos de desculpas. Mas autoridades e especialistas vêm alertando que essa cultura não deve justificar humilhações públicas nem abusos por parte dos consumidores.
O episódio em Kuwana levanta um debate necessário: até onde vai o direito do cliente e onde começa o respeito ao trabalhador?
A expectativa é que a nova legislação sirva como modelo para outras cidades japonesas. Com mais ferramentas legais, empresas e trabalhadores esperam finalmente ter proteção real contra comportamentos abusivos.
Com informações de 47 News, Instituto de Pesquisa para Governos Locais, Itai News via SoraNews