Fuji TV admite falhas em caso de assédio envolvendo Masahiro Nakai e anuncia mudanças

Em programa especial, rede reconhece omissões e cultura de assédio após denúncia contra ex-astro Masahiro Nakai. Presidente pediu desculpas públicas.

A emissora Fuji TV transmitiu em 6 de julho um programa especial analisando sua própria resposta ao caso de assédio sexual denunciado por uma ex-apresentadora da casa contra o ex-integrante do SMAP e personalidade da TV japonesa, Masahiro Nakai.

A investigação interna foi conduzida por um comitê independente, que concluiu que a vítima foi alvo de “violência sexual no exercício de atividades profissionais“, fato inicialmente tratado pela alta cúpula da emissora como uma “questão privada entre um homem e uma mulher”.

Presidente se desculpa publicamente

Logo no início do programa, o atual presidente da Fuji TV, Kenji Shimizu, ofereceu um pedido formal de desculpas:

“Pedimos desculpas profundamente por causar preocupação e transtornos relacionados a direitos humanos e questões de compliance.”

O presidente da Fuji Television Network Inc., Kenji Shimizu, é visto se desculpando durante um programa transmitido pela Fuji TV em 6 de julho, que detalhou problemas relacionados à suposta agressão sexual de um locutor pela ex-personalidade Masahiro Nakai.

Como a emissora falhou?

A denúncia refere-se a um episódio ocorrido em junho de 2023, mas só chegou à diretoria da emissora em agosto. Mesmo assim, os então presidentes Koichi Minato e Toru Ota não investigaram Nakai diretamente, com base no fato de a vítima ter ido ao apartamento dele, uma justificativa criticada pelo comitê como negligente e insensível.

Minato reconheceu no programa:

“Quero pedir desculpas a ela. Causei dor ao não me colocar em seu lugar.”

Cultura organizacional machista e tóxica

O programa também trouxe à tona relatos que expõem uma cultura corporativa problemática, com práticas sexistas institucionalizadas:

  • Reuniões “informais” com jovens mulheres atraentes para agradar clientes e celebridades;
  • Comentários como:

“Apresentadoras são como hostess de luxo. A boa é a que sabe se vender bem.” — atribuídos a Toru Ota (que não negou);

  • Descrições de encontros organizados apenas com mulheres jovens e bonitas, com fins de “entretenimento corporativo”.

Concentração de poder e falhas de governança

Outro foco do programa foi o papel de Hisashi Hieda, ex-diretor que por mais de 40 anos teve controle sobre nomeações e promoções executivas. O comitê responsabilizou sua influência pela falta de governança e cultura tóxica. Hieda recusou participar do programa mesmo após três convites formais.

Segundo o ex-vice-presidente Ryunosuke Endo, uma reunião com Hieda durou mais de 10 horas, às vésperas da coletiva de imprensa de janeiro. Endo teria suplicado:

“Se o senhor não renunciar, essa crise não vai se resolver.”

Hieda teria respondido:

“Não vou renunciar. Vai desistir sem lutar?”

O ex-presidente Ko Toyoda (2007–2013) também afirmou, por escrito, que Hieda “controlava promoções e salários”, demonstrando a falência do sistema de governança da Fuji TV.

Relações próximas entre chefes e celebridades

O programa também abordou o relacionamento pessoal entre Nakai e o ex-chefe do departamento de programação, responsável por apresentá-lo à vítima. Funcionários relataram que o executivo abandonava compromissos pessoais ao ser chamado por Nakai para jogar mahjong, e que sua promoção se deu por produzir programas de sucesso com celebridades influentes.

A Fuji TV afirma que tomará medidas para revisar sua cultura interna, políticas de compliance e estrutura de governança. A emissora enfrenta pressão pública e institucional para garantir transparência e proteção às suas funcionárias, diante de um caso que expôs a profundidade das falhas éticas e estruturais dentro da empresa.

Com informações via Mainichi Shimbun