Crise entre Japão e EUA se agrava após anúncio de tarifa de 25% por Trump

Premiê japonês reage com tom inédito à ameaça dos EUA de impor tarifa sobre produtos do Japão; Tóquio e Washington seguem sem acordo.

A relação entre Japão e Estados Unidos atravessa um momento de forte tensão comercial. O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou no início de julho a imposição de uma tarifa de 25% sobre todos os produtos japoneses a partir de 1º de agosto, alegando “reciprocidade” comercial. A medida gerou uma reação sem precedentes do governo japonês, especialmente em meio à campanha para as eleições da Câmara Alta, previstas para 20 de julho.

💬 “Não seremos desrespeitados”, diz primeiro-ministro japonês

O premiê Shigeru Ishiba adotou um tom mais firme do que o habitual com relação ao principal aliado internacional do Japão. Em comício no dia 9 de julho, em frente à estação JR Funabashi, na província de Chiba, Ishiba afirmou:

“Essa é uma batalha pelos interesses nacionais. Não seremos desrespeitados.”

O primeiro-ministro Shigeru Ishiba discursa em frente à estação JR Funabashi, em Funabashi, província de Chiba, em 9 de julho. (Créditos Imagem: Asahi / Suzuka Tominaga)

O líder japonês ainda criticou publicamente a forma como Trump fez o anúncio, por meio de uma carta publicada em sua própria rede social, classificando o gesto como “desrespeitoso com um aliado”.

🤝 Diplomacia tenta acordo “mutuamente benéfico”

Apesar do impasse, os chanceleres dos dois países, Takeshi Iwaya (Japão) e Marco Rubio (EUA), se reuniram em 11 de julho em Kuala Lumpur, à margem de encontros da ASEAN, e concordaram em apoiar as negociações bilaterais com foco em tarifas, segundo o Ministério das Relações Exteriores do Japão.

Os ministros confirmaram o apoio a conversas ministeriais contínuas, que já somam sete rodadas presenciais, sem, no entanto, alcançar um consenso.

O Ministro das Relações Exteriores do Japão, Takeshi Iwaya, à direita, e o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, se encontram em Kuala Lumpur em 10 de julho de 2025. (Foto cortesia do Ministério das Relações Exteriores do Japão/Kyodo)

As negociações do lado japonês são conduzidas por Ryosei Akazawa, ministro da Revitalização Econômica. Já a equipe americana inclui Scott Bessent (Tesouro), Howard Lutnick (Comércio) e o representante de comércio Jamieson Greer.

🗳️ Tarifa vira tema sensível em meio às eleições

Fontes do governo japonês afirmam que Ishiba esperava alcançar um acordo com os EUA antes do início oficial da campanha eleitoral, em 3 de julho, o que não se concretizou.

Diante da repercussão negativa, Ishiba e líderes do Partido Liberal Democrático (PLD) decidiram endurecer o discurso. Itsunori Onodera, chefe do Conselho de Pesquisa de Políticas do PLD, também criticou abertamente Trump em uma reunião partidária:

“Enviar esse tipo de notificação por carta única é extremamente desrespeitoso com um aliado. Sinto profunda indignação.”

🏛️ Oposição pressiona, mas também é cortejada

Líderes da oposição aproveitaram o episódio para atacar o governo. Yoshihiko Noda, do Partido Democrático Constitucional do Japão, afirmou:

“Os obstáculos aumentaram, e o objetivo se afasta cada vez mais. Isso mostra que as negociações não vão bem.”

Yuichiro Tamaki, do Partido Democrático do Povo, questionou se ainda existe “relação de confiança” entre os dois países.

Em resposta, Ishiba também parece estar tentando articular uma frente unificada, incluindo membros da oposição, para enfrentar o impacto das tarifas.

“Como servir ao interesse nacional se estamos nos boicotando internamente?”, questionou.

📉 Risco econômico real

A imposição da tarifa pode afetar setores estratégicos da economia japonesa, como a indústria automobilística, além de pressionar o comércio bilateral em um momento em que o Japão tenta diversificar seus mercados e consolidar sua recuperação econômica pós-pandemia.

Sem um acordo à vista, cresce a preocupação de que a disputa tarifária evolua para uma crise diplomática mais ampla, prejudicando a imagem do governo japonês em um momento eleitoral delicado.