Casos chocam o país e reacendem debate sobre venda de câmeras ocultas usadas por predadores até mesmo dentro de salas de aula
Uma série de casos envolvendo câmeras ocultas em escolas no Japão tem gerado grande preocupação entre pais, professores e autoridades. Em Kobe, câmeras escondidas em cabides foram encontradas em vestiários femininos de uma escola de ensino médio em maio do ano passado, levando à prisão de um homem de 38 anos.
Segundo documentos do tribunal, o homem — que não era professor — invadiu escolas repetidamente desde 2019 em Kobe e também em Nara, onde morava. Ele instalava câmeras minúsculas que se ativavam com movimento e registravam imagens sem que ninguém percebesse.
As investigações revelaram um acervo de cerca de 20 mil vídeos com imagens de alunas em roupas íntimas ou em situações de vulnerabilidade. A polícia de Hyogo apreendeu câmeras disfarçadas de cabides e dois discos rígidos em sua casa.
As câmeras usadas eram facilmente encontradas à venda na internet, promovidas como ferramentas de segurança para prevenção de furtos ou assédio. Mas especialistas alertam que esses dispositivos estão sendo amplamente usados para fins criminosos.
Um comerciante que vende essas câmeras disse: “Elas foram criadas para flagrar assédio ou roubo. Usá-las de outra forma é inimaginável.” Porém, investigadores não descartam processar os varejistas por facilitarem crimes de voyeurismo, mesmo reconhecendo que é difícil provar a intenção criminosa na venda.
Casos recentes envolvendo próprios professores aumentaram ainda mais o alerta. Em outubro de 2024, um professor de 24 anos foi preso por tentar filmar alunas com uma câmera escondida em uma caneta em Tamba, Hyogo. Já em maio deste ano, outro professor, de 40 anos, foi demitido após instalar uma câmera com sensor de movimento no banheiro feminino de uma escola em Takatsuki, Osaka.
Em junho, dois professores do ensino fundamental foram presos por gravarem meninas e compartilharem o conteúdo em um grupo de mensagens com outros profissionais da educação. Cerca de oito pessoas, supostamente também professores, faziam parte do grupo e comentavam positivamente as imagens compartilhadas.
Especialistas em segurança defendem mudanças legais urgentes. Para o professor Yusaku Fujii, da Universidade de Gunma, os avanços tecnológicos das câmeras não foram acompanhados por regras que evitem abusos. Ele propõe um sistema de registro de compradores de câmeras ocultas para ajudar no rastreamento.
Além disso, escolas também têm sido criticadas pela falta de segurança e vigilância. No caso de Kobe, o invasor acessava áreas com janelas destrancadas, duplicava chaves e devolvia ao local original sem ser notado. A escola não chegou a registrar boletim de ocorrência, acreditando que as chaves estavam apenas perdidas.
Na avaliação de Naoya Hiramatsu, diretor de uma rede nacional de prevenção ao voyeurismo, é essencial que as escolas revisem rotinas de segurança e conscientizem os alunos sobre os riscos — inclusive dentro do ambiente escolar.
Com os casos em alta, autoridades japonesas estudam limitar a venda de equipamentos de espionagem e aumentar a vigilância para impedir que escolas, que deveriam ser espaços seguros, se tornem alvos de crimes tão graves.