Herói da luta mongol, Batsuuri brilha no Naadam após desistir do sonho no sumô japonês

Depois de uma vida difícil no Japão, lutador retorna à Mongólia, conquista o título mais alto da luta tradicional e inspira nova geração.

Sob os refletores do Estádio Nacional da Mongólia, durante o tradicional festival Naadam, o lutador Namsraijav Batsuuri, de 38 anos, luta com determinação para defender seu título na luta tradicional do país, conhecida como bokh.

Batsuuri já sonhou em ser um grande lutador de sumô no Japão, como outros mongóis famosos. Mas a vida difícil no exterior o fez voltar para casa. Foi em seu país natal que ele finalmente encontrou sucesso, força e reconhecimento na luta que faz parte da cultura mongol há séculos.

A luta tradicional da Mongólia

O bokh, esporte nacional da Mongólia, tem semelhanças com o sumô japonês, mas com regras próprias. A luta acontece em um campo aberto, sem limite de tempo, e o atleta perde se suas costas, joelhos ou cotovelos tocarem o chão. Mãos no solo são permitidas.

Durante o Naadam, que reúne 512 lutadores em dois dias de combates, é preciso vencer nove lutas seguidas para conquistar o título.

Neste ano, com a presença especial do Imperador Naruhito e da Imperatriz Masako do Japão, todas as atenções estavam voltadas para Batsuuri, campeão do ano passado e dono do título mais alto do esporte: “Darkhan Avarga”, que significa “campeão invencível”. Desde 1946, apenas 10 lutadores alcançaram esse posto.

O sonho (e a realidade) no Japão

Inspirado por ídolos mongóis do sumô, como Asashoryu e Hakuho, Batsuuri foi ao Japão em 2007 com uma bolsa de estudos. Mas a realidade foi dura: ele acordava de madrugada para entregar jornais, estudava japonês pela manhã, entregava jornais à tarde e ainda trabalhava à noite em um restaurante de sushi. Tudo isso com apenas quatro dias de folga por mês.

“Só os treinos de sumô me davam alegria”, disse Batsuuri, lembrando da rotina intensa e solitária.

Apesar da dedicação, ele percebeu que entrar para um time de sumô no Japão era muito difícil para estrangeiros, e decidiu voltar à Mongólia em 2009.

Apoio e retorno triunfante

Batsuuri contou com a ajuda de Tokusegawa (Badamsambuu Ganbold), ex-lutador de sumô e compatriota, que o treinou em técnicas tanto do sumô quanto do bokh. Em 2018, Batsuuri venceu o torneio Naadam pela primeira vez e iniciou sua escalada até o título máximo.

“Entre tantos jovens fortes, a maior qualidade dele é a força mental”, disse Ganbold, hoje com 42 anos.

Preparação intensa e nova meta

Para o Naadam deste ano, Batsuuri montou um acampamento de treinamento com 80 lutadores em junho, em um campo perto de Ulaanbaatar. Treinaram tanto que o chão ficou desgastado pela movimentação.

Mesmo com todo o esforço, Batsuuri foi derrotado na semifinal, mas saiu de cabeça erguida.

“Dei tudo de mim até o fim”, disse o campeão, prometendo voltar mais forte no ano que vem.