Como ajudar crianças a lidar com a morte de um animal de estimação, segundo especialistas

Psicólogos explicam que a perda de um pet pode ser a primeira experiência de luto infantil e um importante aprendizado emocional sobre a morte.

Perder um animal de estimação costuma ser o primeiro contato que muitas crianças têm com a morte. Segundo psicólogos e especialistas em luto por pets, essa experiência pode se tornar uma importante oportunidade de aprendizado emocional, ajudando-as a compreender e lidar com a perda ao longo da vida.

Profissionais da área afirmam que pais e responsáveis desempenham um papel essencial nesse processo — não apenas ajudando a criança a aceitar a morte como algo permanente, mas também guiando-a por um luto saudável e reparador.

“As pessoas evitam falar sobre morte e luto, mas é a única certeza que temos. Precisamos estar abertos a esse diálogo”, disse Deirdra Flavin, diretora da National Alliance for Children’s Grief.

Cada criança lida com o luto de forma diferente

O modo como a criança entende e reage à morte depende da idade, da personalidade e da relação com o animal. Especialistas explicam que sentimentos como tristeza, raiva e confusão podem ser difíceis de expressar, e que o apoio emocional dos adultos é fundamental.

Segundo Colleen Rolland, presidente da Association for Pet Loss and Bereavement, até mesmo crianças pequenas já têm alguma noção de morte por meio de histórias e contos, mas podem não compreender sua irreversibilidade. Já as mais velhas, que entendem que a perda é definitiva, precisam de mais conforto e espaço para falar.

Um exemplo disso é o de Elizabeth Perez, mãe de três filhos em Washington, que contou como cada criança reagiu de forma diferente após a morte de sua cachorra Zoe, atropelada em 2024. Sua filha do meio, Carmen, teve pesadelos e dificuldade para dormir, enquanto os outros irmãos expressaram o luto de maneiras distintas.

“Foi muito difícil para toda a família. Todos sentiam a dor, mas em momentos e intensidades diferentes”, contou Perez.

Evite eufemismos e fale com sinceridade

Psicólogos alertam que, ao tentar “proteger” as crianças, muitos adultos usam eufemismos confusos, como “o cachorro foi dormir” ou “se perdeu”. Isso pode gerar medos desnecessários.

“Crianças pensam de forma literal. Se você disser que o peixe foi dormir, ela pode ter medo de dormir também”, explicou Flavin.

A recomendação é usar linguagem clara e honesta, explicando que o corpo do animal parou de funcionar e não voltará mais. Essa clareza ajuda a criança a compreender o conceito de morte de forma saudável.

Apoio emocional é essencial

O luto infantil muitas vezes é subestimado. No entanto, especialistas lembram que a perda de um pet pode ser tão dolorosa quanto a de um familiar.

Sinais de sofrimento incluem mudanças de comportamento, irritação, tristeza, isolamento e recusa em fazer atividades antes prazerosas. Se esses sintomas persistirem e afetarem a rotina da criança, os pais devem buscar ajuda profissional.

“Mesmo que não falem sobre o que sentem, as crianças demonstram o luto no comportamento”, explicou a psicóloga Raquel Halfond, da American Psychological Association.

É saudável que adultos também expressem o luto

As crianças aprendem observando os adultos. Por isso, é importante que pais não escondam suas emoções e mostrem que chorar e sentir tristeza é natural.

“Se algo triste acontece e os pais fingem que está tudo bem, a criança pode ficar confusa”, disse Halfond.

Criar rituais e lembranças ajuda na recuperação

Os especialistas também recomendam rituais de despedida para ajudar na aceitação da perda — como desenhar o pet, plantar uma árvore, fazer uma doação a abrigos de animais ou realizar uma pequena cerimônia em família.

Para a mãe Meaghan Marr, que perdeu dois cães quando seus filhos eram pequenos, conversar abertamente sobre a morte e sobre o quanto os animais trouxeram alegria à família ajudou no processo de cura.

“Disse a eles que dói perder, mas que a vida com eles valeu a pena. Eles tornam tudo melhor enquanto estão conosco”, contou.