Começa julgamento de Tetsuya Yamagami, acusado de assassinar o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe

Réu confessa ter atirado em Abe durante discurso em 2022; defesa alega que arma caseira não se enquadra na lei japonesa de controle de armas.

O julgamento de Tetsuya Yamagami, acusado de assassinar o ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, começou nesta segunda-feira (27) no Tribunal Distrital de Nara, sob a presidência do juiz Shinichi Tanaka. O caso é julgado por um painel de cidadãos e juízes profissionais, conforme o sistema de júri misto japonês.

Yamagami, de 45 anos, declarou logo no início da sessão:

“Tudo é verdade. Não há erro no que fiz.”

O réu, vestido de preto e com o cabelo preso, confirmou sua identidade ao tribunal e reconheceu todos os fatos da acusação, mas acrescentou:

“Deixo as questões legais nas mãos dos meus advogados.”

A defesa argumentou que o disparo com uma arma de fabricação caseira não deveria ser enquadrado como violação à Lei de Controle de Armas e Espadas, pois o equipamento não se enquadra na definição legal de arma de fogo.

Segundo a denúncia, Yamagami atirou em Abe no dia 8 de julho de 2022, durante um discurso de campanha eleitoral próximo à estação Kintetsu Yamato-Saidaiji, em Nara, resultando na morte do ex-primeiro-ministro aos 67 anos.

Durante as investigações, o acusado afirmou à polícia que nutria rancor contra a Igreja da Unificação (atualmente chamada de Federação para a Paz e Unificação Mundial), à qual sua mãe teria doado cerca de 100 milhões de ienes quando ele ainda era adolescente. Ele disse acreditar que Abe tinha vínculos com a organização e, por isso, decidiu atacá-lo.

A defesa deve concentrar-se na vida familiar e nas motivações pessoais de Yamagami, buscando redução de pena por circunstâncias atenuantes. Já a promotoria pretende demonstrar que o crime foi premeditado e cometido com plena consciência e intenção de matar.

O julgamento terá 19 sessões, com depoimentos de familiares, incluindo a mãe do réu, além do próprio interrogatório de Yamagami. O processo deve encerrar-se em 18 de dezembro, e a sentença está marcada para 21 de janeiro de 2026.

O caso abalou o Japão e reacendeu o debate sobre segurança de figuras públicas e o papel de grupos religiosos na política japonesa.