Caso reacende alerta sobre crimes online e aumento de suicídios entre adolescentes japoneses
Um caso chocante envolvendo o uso de redes sociais para atrair jovens em situação de sofrimento psicológico voltou a chamar a atenção para o aumento dos suicídios entre adolescentes no Japão.
Em setembro do ano passado, o dono de uma casa vazia em uma área montanhosa de Yamagata encontrou uma barraca montada em seu terreno. Dentro, havia o corpo de uma adolescente, junto com carvão queimado. A polícia concluiu que a jovem morreu por intoxicação por monóxido de carbono.
As investigações revelaram que a garota havia sido levada de carro desde a cidade de Yamagata até o local e abandonada ali. Segundo o proprietário do terreno, “ela foi trazida até tão longe apenas para morrer”.
O principal suspeito é Hiroki Kishinami, de 36 anos, morador de Fukushima e atualmente desempregado. Ele foi preso e denunciado neste ano por crimes que incluem ajudar e incentivar suicídios.
De acordo com a acusação, Kishinami teria envolvimento em cinco casos, incluindo a adolescente encontrada morta em Yamagata. As outras vítimas são uma adolescente e uma mulher na faixa dos 20 anos, ambas de Fukushima, um homem na faixa dos 20 anos de Miyagi e um adolescente de Saitama. Apenas uma das vítimas sobreviveu.
A polícia afirma que Kishinami procurava jovens que postavam nas redes sociais o desejo de morrer. Ele iniciava contato público e depois levava a conversa para aplicativos de mensagens privadas, onde fazia convites para cometer suicídio juntos. Em alguns casos, também houve denúncias de abuso sexual e roubo de dinheiro.
Especialistas afirmam que esse tipo de crime costuma envolver uma percepção distorcida por parte do agressor, que acredita estar “ajudando” a vítima, ou se aproveita da fragilidade emocional para satisfazer interesses próprios.
Organizações que atuam na prevenção ao suicídio alertam que muitos jovens recorrem às redes sociais por não conseguirem expressar seu sofrimento na vida real. Segundo Jiro Ito, diretor de uma ONG de apoio psicológico online, postagens sobre vontade de morrer geralmente são pedidos de ajuda. “Se essas pessoas tivessem acesso ao suporte adequado, muitas poderiam ser salvas”, afirma.
O Japão tem registrado queda no número total de suicídios desde o pico em 2003, mas os casos entre jovens vêm aumentando. Dados do governo mostram que, em 2024, o número de suicídios entre meninas com menos de 20 anos superou o de meninos pela primeira vez, sendo 2,6 vezes maior do que há dez anos.
Pesquisadores classificam a situação como uma “crise silenciosa” e defendem ações urgentes da sociedade. Apesar de esforços de empresas de tecnologia para exibir mensagens de apoio e contatos de ajuda, muitos usuários usam códigos para driblar os sistemas de monitoramento.
Especialistas também defendem medidas mais rígidas contra contas suspeitas e destacam a importância de criar vínculos reais, fora do ambiente virtual. “É fundamental que os jovens tenham alguém identificado e confiável com quem possam falar quando estiverem em sofrimento”, afirmam profissionais da área.
O caso reforça o debate sobre saúde mental, segurança nas redes sociais e a necessidade de ampliar as redes de apoio para crianças e adolescentes no Japão.
