Sob pressão da Otan e dos EUA, Japão discute aumento em gastos militares enquanto Trump compara ataque ao Irã a Hiroshima

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Enquanto o Japão debate elevar seu orçamento de defesa frente a novas metas da Otan, declarações de Trump sobre bombardeios nucleares provocam indignação entre sobreviventes de Hiroshima.

O Japão está sob crescente pressão dos Estados Unidos e da Otan para aumentar seu orçamento militar, ao mesmo tempo em que lida com declarações controversas do ex-presidente americano Donald Trump, que comparou os recentes ataques a instalações nucleares iranianas às bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial.

Na última semana, os países-membros da Otan aprovaram a elevação das metas de gastos com defesa para até 5% do PIB. Embora o Japão não integre a aliança militar, a medida gerou preocupação no Ministério da Defesa japonês, que teme que o país também seja pressionado a seguir a tendência. Um alto funcionário do ministério afirmou que o movimento reflete não apenas ambições militares, mas “como os aliados reagem financeiramente ao fardo sentido pelos Estados Unidos”.

Atualmente, o Japão destina cerca de 1,8% de seu PIB à defesa, com meta de atingir 2% até 2027. Mesmo assim, autoridades americanas vêm sugerindo publicamente que o país deveria ir além, com propostas que variam de 3% a até 5% do PIB, algo que exigiria praticamente dobrar os investimentos atuais. A preocupação interna, no entanto, é se o Japão teria condições fiscais e logísticas de executar tal aumento.

O ministro da Defesa, Gen Nakatani, declarou que “a qualidade das capacidades de defesa é o que mais importa”, enquanto o primeiro-ministro Shigeru Ishiba reforçou que o país deve “definir de forma independente suas reais necessidades”.

Trump gera revolta com declaração sobre Hiroshima

No mesmo contexto geopolítico, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, causou indignação no Japão ao comparar os recentes ataques a instalações nucleares do Irã com os bombardeios atômicos de 1945.

“Não quero usar Hiroshima como exemplo, nem Nagasaki, mas foi basicamente a mesma coisa. Aquilo encerrou a guerra”, disse Trump em entrevista durante a cúpula da Otan, na Holanda.

A fala provocou reações fortes no Japão. Teruko Yokoyama, 83, sobrevivente de Hiroshima e integrante da associação Nihon Hidankyo, vencedora do Nobel da Paz de 2024, afirmou:

“Estou profundamente decepcionada. Só sinto raiva.”

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump fotografado na cúpula do G7 em Kananaskis, Alberta, Canada, no dia 16 de Junho de 2025. (Imagem: REUTERS/Suzanne Plunkett/Pool)

Trump afirmou que os ataques “obliteraram” as instalações nucleares iranianas e encerraram o conflito entre Israel e Irã. No entanto, relatórios de inteligência dos EUA indicam que o impacto teria sido limitado, atrasando o programa nuclear iraniano apenas por alguns meses.

Apesar disso, Trump declarou que acredita que o programa foi “retrocedido por décadas” e sugeriu que o Irã não voltará a enriquecer urânio. Ele também afirmou que “as relações com o Irã estão indo bem” e que há possibilidade de um acordo entre os dois países na próxima semana, mas que isso “não é obrigatório”.

Próximos passos no Japão

O atual plano de fortalecimento da defesa japonesa vai até 2027. Neste ano, considerado o ponto intermediário da estratégia, o governo deve iniciar debates internos, especialmente dentro do Partido Liberal Democrata (PLD), sobre o que virá a seguir. Um funcionário do Ministério da Defesa afirmou que “a nova meta da Otan pode acelerar essas discussões”.

No entanto, muitos dentro do próprio governo duvidam que seja viável elevar os gastos militares para níveis tão altos, especialmente diante da crise fiscal japonesa. A inclusão de despesas complementares, como infraestrutura estratégica e cibersegurança, pode ajudar a compor o total, mas o crescimento acelerado não parece sustentável a longo prazo.

Com informações do Mainichi Shimbun – Link 1, Link 2