Nova lei permite ações preventivas contra ataques cibernéticos e exige que empresas relatem incidentes para proteger setores estratégicos.
Com as eleições nacionais se aproximando, o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, aprovou uma nova lei de defesa cibernética em maio. O objetivo é mostrar liderança após uma série de ataques virtuais que revelaram falhas graves na segurança digital do país.
A nova lei muda o foco do Japão: antes o país só reagia aos ataques, agora poderá agir de forma preventiva. Com o aumento de ameaças vindas de hackers ligados a governos estrangeiros, o setor privado também está sendo chamado a proteger melhor seus sistemas e dados importantes.
Boa parte da infraestrutura do Japão — como energia, transporte e comunicação — é controlada por empresas privadas. Por isso, o governo diz que a colaboração dessas empresas é essencial para melhorar a segurança digital do país.
Mesmo com a eleição próxima, o governo pretende continuar com ações na área. Está prevista a criação de uma nova estratégia até o fim do ano, e o plano é colocar em funcionamento um sistema completo de defesa cibernética preventiva até 2027.
A lei permite que o governo monitore dados básicos das comunicações na internet no Japão e possa desligar servidores perigosos com apoio da polícia e das Forças de Autodefesa. Além disso, as empresas serão obrigadas a relatar ataques cibernéticos que sofrerem.
A consultoria Pacific Square, especializada em análise estratégica, afirmou que a nova lei também incentiva a cooperação internacional, mostrando que o Japão quer ter mais voz nas regras globais de segurança digital.
Segundo Michael Daniel, diretor da organização Cyber Threat Alliance, o Japão é alvo de ataques de grupos ligados à China, Coreia do Norte, Rússia e também de criminosos virtuais. Um exemplo preocupante aconteceu por volta de 2019, quando o grupo “MirrorFace”, ou “Earth Kasha”, começou a atacar setores importantes como tecnologia, indústria e universidades, aproveitando falhas em sistemas.
Autoridades japonesas acreditam que houve envolvimento da China nesses ataques. Em resposta, o governo quer dobrar o número de profissionais treinados em segurança digital, passando de 24 mil para 50 mil até 2030.
Takahiro Kakumaru, especialista da empresa de tecnologia NEC, explicou que hoje é mais fácil do que nunca realizar ataques virtuais. Ferramentas de invasão podem ser compradas até por pessoas sem experiência em informática. Ele disse que existem grupos que “vendem vírus fáceis de usar, com alto índice de sucesso e preço acessível”.
Para combater isso, a NEC também está usando inteligência artificial (IA) para se defender. Um novo sistema, que será lançado até março de 2026, vai ajudar a proteger infraestrutura pública e órgãos do governo.
Noboru Nakatani, chefe de segurança da NEC e ex-membro da Interpol, afirmou que a meta é colocar o Japão no mesmo nível de segurança digital dos Estados Unidos.
A NEC entrou para a Cyber Threat Alliance, grupo liderado por Michael Daniel, que defende mais cooperação entre empresas para melhorar a proteção digital em todos os setores.
Especialistas recomendam que empresas adotem práticas simples, como login em duas etapas e criptografia de dados, para dificultar a ação dos hackers. Outra dica é usar a “microsegmentação”, que divide a rede em partes menores. Assim, mesmo que um hacker entre, ele terá acesso limitado.
Empresas japonesas também estão sendo incentivadas a trocar informações com parceiros no Japão e no exterior, como as “hash values”, que funcionam como impressões digitais para identificar vírus e programas maliciosos.