Cientista japonês é reconhecido por identificar células T reguladoras e alerta sobre desafios enfrentados por pesquisadores no país; trajetória inclui filosofia, autonomia e persistência.
O imunologista japonês Shimon Sakaguchi, de 74 anos, foi anunciado como co-vencedor do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2025, ao lado de dois cientistas americanos, por suas descobertas inovadoras sobre o sistema imunológico, incluindo a identificação das células T reguladoras (Tregs), responsáveis por impedir que o sistema imune ataque o próprio corpo.
Reconhecimento e esperança
Em declaração feita na Universidade de Osaka, onde atua como professor especialmente nomeado, Sakaguchi afirmou:
“Espero que este prêmio leve a mais progresso na imunologia e que os resultados possam ser aplicados clinicamente.”
Ele agradeceu aos estudantes e pesquisadores que o acompanharam ao longo da carreira e disse estar honrado e emocionado com o reconhecimento.

Filosofia, medicina e autonomia
Nascido em Biwa, atual Nagahama, na província de Shiga, Sakaguchi cresceu cercado pela natureza e influenciado pela biblioteca filosófica do pai. Apesar da paixão pela filosofia, foi incentivado a seguir a ciência como proteção contra o recrutamento militar, e acabou se interessando por psiquiatria após ler Viktor Frankl.
Ingressou na Universidade de Kyoto para estudar medicina e se fascinou com o paradoxo do sistema imunológico, que pode tanto proteger quanto atacar o corpo humano.
Persistência e pioneirismo
Nos anos 1980, Sakaguchi iniciou pesquisas sobre células que suprimem a imunidade, contrariando o consenso científico da época.
“Meu trabalho foi ignorado por uma década”, relembrou.
“Digo aos alunos que grandes conquistas levam tempo.”
Ele optou por pesquisa independente, passando por quatro institutos nos EUA, sempre buscando autonomia científica.
Hoje, lidera seu próprio laboratório no Centro de Pesquisa em Imunologia da Universidade de Osaka.
Família e apoio
Casado com Noriko, dermatologista, Sakaguchi viveu nos EUA por anos antes de retornar ao Japão aos 44 anos. Sua pesquisa ganhou reconhecimento internacional por volta dos 50.
Noriko revelou que o marido evita celulares, costuma trabalhar no limite do prazo e a mantém “sempre em alerta”.
O irmão mais velho, Isaku, disse que a mãe, falecida aos 104 anos em 2024, “quase viu essa conquista”.
“Parece que a determinação da nossa família ajudou a conquistar esse prêmio.”
Crítica ao cenário científico japonês
Sakaguchi transferiu neste ano a sede de sua empresa RegCell Inc., fundada em 2016, para os Estados Unidos, alegando dificuldade de inovação no Japão.
“É difícil liderar algo novo aqui. As empresas farmacêuticas só investem se o projeto já tiver sucesso.”
Ele comparou o Japão com Europa e EUA, onde há cultura de aceitação ao risco e apoio à ciência básica.
Segundo Sakaguchi:
- O financiamento japonês em imunologia é um terço do que a Alemanha investe, apesar de terem PIBs semelhantes
- O desenvolvimento de terapias está avançando globalmente, mas não é ativo no Japão
Na noite de 6 de outubro, após o anúncio do Nobel, Sakaguchi recebeu ligação da ministra da Ciência, Toshiko Abe, e aproveitou para fazer um apelo:
“Falta apoio à ciência básica.”
Com informações via NHK World e Asahi Shimbun