Vítima de ataque brutal em 2016, a musicista Mayu Tomita critica a “insinceridade” da Polícia Metropolitana de Tóquio (MPD) e vence processo civil, forçando o reconhecimento da falha na prevenção do crime que quase tirou sua vida.
Em 21 de maio de 2016, a idol e estudante universitária Mayu Tomita, então com 20 anos, foi atacada por um fã obcecado do lado de fora de uma casa de shows em Koganei, Tóquio. A agressão brutal, na qual ela foi esfaqueada dezenas de vezes enquanto o agressor gritava “Morra, morra, morra!”, deixou-a em estado grave. O agressor era Tomohiro Iwazaki, um fã de 27 anos e aconteceu depois de Tomita devolver presentes que ele lhe havia enviado.
Milagrosamente, Tomita não teve órgãos vitais atingidos, mas passou cerca de duas semanas em coma, com ferimentos graves no rosto, pescoço, peito, costas e braços. Nove anos depois, ela descreve sua vida como “amarga e agonizante” e continua sofrendo de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
A Falha Policial e o Processo Civil
O foco de Mayu Tomita mudou da sobrevivência para a justiça, visando evitar que outras vítimas de stalking enfrentem um destino semelhante. Em um processo civil concluído em 28 de julho deste ano, ela e sua mãe processaram o Governo Metropolitano de Tóquio e sua antiga agência de talentos, acusando a Polícia Metropolitana (MPD) de negligência.
- A Denúncia Ignorada: Apenas 12 dias antes do ataque, Tomita havia procurado a polícia para relatar o terror provocado por mensagens hostis, presentes indesejados e ameaças de morte do stalker nas redes sociais. O agressor havia enviado cerca de 400 mensagens desde 2014.
- O Erro Fatal: Os policiais de Musashino consideraram a situação “não urgente” e não a encaminharam para a unidade especializada em stalking da MPD.
- O Reconhecimento da Falha: Após o ataque, a MPD admitiu em um relatório de investigação que “deveria ter determinado que medidas imediatas de segurança eram necessárias”, mas negou ter recebido as alegações de Tomita de que ela se sentia “em perigo de ser morta”.

O Acordo Judicial
O processo, que durou seis anos, culminou em um acordo judicial cujos termos, elaborados pelo Tribunal Distrital de Tóquio, exigiram que a MPD expressasse pesar, ouvisse a vítima com sinceridade e fortalecesse as medidas de prevenção.
- O advogado de Tomita, Masato Takahashi, afirmou que o valor do acordo não foi divulgado, mas é “equivalente à Polícia Metropolitana admitir a culpa,” criticando a resposta da polícia como “desatualizada” e falhando em se alinhar com a perspectiva pública.
O Horror do Julgamento e o Apelo à Polícia
Em um livro de memórias inédito compartilhado com a Kyodo News, Tomita descreve o longo calvário legal e a revitimização sofrida nas mãos das autoridades.
Trecho das Memórias: “Durante este julgamento de seis anos, minha impressão mais forte foi: as respostas insinceras que voltavam através de trocas escritas. As histórias fabricadas no tribunal, onde juravam dizer a verdade, enquanto fingiam ser verdadeiros.”
Tomita relata que sofreu flashbacks violentos no tribunal quando um policial lhe mostrou um artigo de jornal com a foto do suspeito, uma experiência que a fez sentir como se o “agressor tivesse aparecido diante dela novamente, empunhando uma faca”.
Legado e Mudança na Lei
O brutal ataque a Tomita (e outros casos notórios, como o assassinato de Shiori Ino em 1999) levou a Dieta Nacional a revisar suas leis anti-stalking em dezembro de 2016.
- Reforma Legal: A legislação agora inclui assédio online e cyberstalking nas mídias sociais e permite que as autoridades atuem mesmo sem uma queixa formal da vítima, cobrindo um leque mais amplo de ações que causam medo.
Tomita, que não consegue mais dormir, sair sozinha ou usar transporte público devido ao TEPT, espera que seu livro de memórias faça com que a polícia compreenda a dificuldade de viver com as sequelas de um ataque e honre a promessa de proteger as vítimas.
Conclusão: “A diferença entre ser salva ou não pode alterar profundamente a vida inteira de alguém. Mesmo após o incidente terminar, a vitimização nunca cessa.”
Com informações via Mainichi Shimbun
