Imigração vira tema central das eleições no Japão em meio à ascensão de partidos conservadores

Debate sobre presença de estrangeiros ganha força com discurso nacionalista e promessas de controle mais rígido

A poucos dias das eleições para a Câmara Alta, que ocorrem em 20 de julho, o tema da imigração se tornou um dos principais pontos de debate no Japão, impulsionado pelo crescimento de partidos nacionalistas e pelo enfraquecimento do bloco governista liderado pelo primeiro-ministro Shigeru Ishiba.

O partido conservador Sanseitō, com sua proposta de um Japão para os japoneses (“Japanese First”), tem ganhado destaque nas pesquisas, chegando a ocupar o segundo lugar em popularidade em alguns levantamentos da mídia. O partido defende controle mais rígido sobre os estrangeiros, fim do acesso a benefícios sociais, e até mesmo a proibição de contratação de estrangeiros no setor público.

Analistas alertam que, apesar do tom eleitoral, o debate pode ter efeitos duradouros, alimentando discriminação e divisão social, especialmente se retóricas xenofóbicas sem base em fatos ganharem aceitação popular.

Incidentes isolados envolvendo estrangeiros — como casos de direção perigosa relacionados a regras de conversão de habilitação e uso indevido de serviços públicos — têm sido explorados politicamente, apesar de dados oficiais mostrarem que os crimes cometidos por estrangeiros representam apenas cerca de 2% do total no país, um índice estável há dez anos.

Com cerca de 3,77 milhões de estrangeiros vivendo no Japão até o fim de 2024, e uma queda recorde de 898 mil japoneses na população nacional no mesmo período, especialistas afirmam que o país enfrenta uma grave crise demográfica, que pode impactar diretamente o crescimento econômico.

Mesmo partidos grandes, como o Partido Liberal Democrata (LDP), tradicional força dominante, adotaram um tom mais rígido. O LDP prometeu “zero estrangeiros ilegais” e estuda criar um centro de comando para políticas migratórias. Seu parceiro de coalizão, o Komeito, defende melhorias na gestão de residentes estrangeiros. A oposição Democrática do Povo quer limitar a compra de imóveis por estrangeiros.

Por outro lado, partidos progressistas como o Partido Constitucional Democrático do Japão defendem leis para promover uma sociedade multicultural e de convivência pacífica, reconhecendo o papel crescente dos imigrantes na economia e na sociedade japonesa.

A retórica mais extrema vem do Sanseitō e do Partido Conservador do Japão, criado em 2023. Seu líder, Naoki Hyakuta, chegou a declarar que estrangeiros “não respeitam a cultura japonesa, quebram regras, agridem e roubam”. Declarações como essa preocupam setores da sociedade e especialistas que temem o crescimento da intolerância.

“O debate sobre estrangeiros precisa reconhecer que nem todas as alegações feitas durante a campanha são baseadas em fatos”, disse Takahide Kiuchi, economista do Nomura Research Institute. Para ele, combater abusos é importante, mas promover a convivência pode ser essencial para revitalizar a economia e melhorar a vida no Japão.