Cidade de Hachioji amplia rede SOS para ajudar pessoas com deficiência intelectual e em situação de risco

Sistema que auxiliava apenas idosos com demência agora também busca proteger jovens e adultos com deficiência intelectual após morte de um estudante.

A cidade de Hachioji, localizada no oeste de Tóquio, anunciou a ampliação de sua rede SOS, um sistema voltado para a localização de pessoas desaparecidas. Antes restrita a idosos com demência, a iniciativa agora também abrange pessoas com deficiência intelectual e outras que necessitam de apoio especial.

A mudança foi motivada pela morte de Daijiro Kubota, um jovem de 16 anos com deficiência intelectual, ocorrida em julho do ano passado. O estudante havia retornado para casa após a cerimônia de encerramento do semestre em sua escola especial, mas parecia agitado. Enquanto sua família se ausentou por alguns minutos, ele saiu sem levar o celular com GPS.

Seis dias depois, Daijiro foi encontrado morto em um rio de Yamanashi, cerca de 30 quilômetros de sua casa. De acordo com a polícia, o jovem pegou um ônibus sem dinheiro e não foi impedido pelo motorista. Mais tarde, na Estação JR Hachioji, disse que queria usar o banheiro, mas acabou passando pela catraca e embarcando em um trem.

A mãe do jovem, Mami Kubota, lamenta o ocorrido:

“Ele adorava conversar com as pessoas. Gostaria que tivesse parado em algum lugar e pedido ajuda.”

Casos como o de Daijiro revelam os riscos constantes enfrentados por pessoas com deficiência intelectual, que podem agir por impulso, desconforto sensorial ou estresse emocional. Nessas situações, elas podem sair de casa ou de instituições sem aviso e se expor a acidentes de trânsito, insolação ou até ao desaparecimento.

De acordo com a Agência da Criança e da Família do Japão, houve 167 casos de desaparecimentos de crianças com deficiência intelectual em abrigos ou instituições no ano de 2022.

O caso mobilizou pais e cuidadores. Em julho do ano passado, uma associação local entregou um pedido formal ao governo japonês, afirmando que a tragédia de Daijiro “não foi um caso isolado, mas algo que pode acontecer com qualquer família”. Pouco tempo depois, o governo de Hachioji anunciou a expansão da rede SOS.

O sistema funciona por meio de um aplicativo móvel, onde familiares registram fotos e descrições físicas de pessoas vulneráveis. Caso alguém desapareça, essas informações são compartilhadas instantaneamente com a polícia, empresas de transporte e voluntários.

Criado na década de 2010 para prevenir acidentes com idosos com demência, o programa se espalhou por grande parte do Japão. Atualmente, mais de 80% dos municípios participam da rede, mas apenas alguns, como Kushiro (Hokkaido) e Sagamihara (Kanagawa), já haviam incluído pessoas com deficiência intelectual.

No primeiro aniversário da morte do filho, o pai, Junji Kubota, refaz o caminho que Daijiro provavelmente percorreu e ainda busca respostas:

“Por que ele veio até aqui? Será que foi até o rio por causa do calor?”

Com a ampliação do programa, a prefeitura de Hachioji espera que nenhuma outra família passe pela mesma dor.

“Não quero que ninguém mais sofra esse tipo de tormento”, disse Junji.

A medida marca um passo importante para fortalecer a proteção de pessoas com deficiência intelectual e reforçar o compromisso da cidade em evitar novas tragédias.