A cidade de Neyagawa inova ao permitir que funcionários públicos utilizem pseudônimos em seus crachás, uma medida inédita no Japão para proteger a privacidade e combater o crescente problema do assédio de clientes.
A cidade de Neyagawa, na província de Osaka, no Japão, começou a permitir que seus funcionários públicos usem nomes fictícios nos crachás durante o atendimento ao público. A medida visa proteger os servidores de casos de assédio por parte de cidadãos, prática que tem crescido nos últimos anos e é conhecida como “customer harassment“.
De acordo com autoridades locais, essa é uma iniciativa inédita entre repartições públicas do país, tanto em nível municipal quanto nacional. A mudança começou a valer em abril de 2025.
Antes, os crachás exibiam o nome real e a foto dos servidores em caracteres simples. Agora, as fotos foram retiradas, e os trabalhadores que atuam em balcões de atendimento podem escolher usar um pseudônimo.
“Queremos garantir um ambiente de trabalho seguro, no qual os funcionários públicos possam exercer seus deveres sem medo de assédio ou retaliações”, afirmou Takenori Uenosono, chefe do departamento de recursos humanos da cidade.
Segundo ele, há registros de situações em que servidores foram vítimas de gritos, ameaças e até perseguição online após o nome completo ser utilizado para tentar contato pessoal.
Por enquanto, os pseudônimos só são permitidos para quem lida diretamente com o público. A cidade avalia expandir a medida para cartões de visita e comunicações internas entre os funcionários. Nomes de solteiro ou variações parciais de sobrenomes reais estão entre os formatos aceitos.
A preocupação com o aumento do assédio a trabalhadores levou outras regiões do Japão a criarem leis específicas. Segundo o Instituto de Pesquisa para Governos Locais, pelo menos cinco prefeituras, incluindo Tóquio e Hokkaido, adotaram normas contra o assédio de clientes em repartições e comércios desde abril.
Na cidade de Kuwana, na província de Mie, o governo local deu um passo além. Se um agressor ignorar os alertas após comportamento abusivo, seu nome e dados pessoais poderão ser expostos no site oficial da cidade por até um ano.
Para Masayuki Kiriu, professor de psicologia criminal da Universidade Toyo, a realidade dos servidores públicos é mais difícil, já que, ao contrário de empresas privadas, eles não podem recusar atendimento a cidadãos problemáticos.
“Será mesmo necessário que a população saiba os nomes dos atendentes em tempos de vazamentos fáceis de dados online?”, questiona o professor.
Kiriu defende uma reflexão profunda sobre o modelo atual de transparência nos serviços públicos e sugere que a proteção da identidade dos servidores seja mais valorizada, especialmente em tempos de hiperconectividade.